Resumo:
Analisa criticamente o estado da democracia brasileira, apoiando-se em um discurso recente do senador Otávio Mangabeira. Pilla discorda da crítica que separa democracia e liberalismo, afirmando que ambos são indissociáveis: uma democracia sem fundamentos liberais corre o risco de se tornar uma ditadura popular. O autor destaca que o sufrágio universal, embora essencial, não é suficiente para garantir a democracia real, pois governos autoritários já foram legitimados por eleições formais. Ele enfatiza que o presidencialismo latino-americano, especialmente no Brasil, frequentemente degenera em ditaduras constitucionais, disfarçadas sob o manto do voto popular. Mesmo quando o processo eleitoral ocorre aparentemente de forma livre, a corrupção e a demagogia minam a legitimidade do voto, que deixa de representar uma escolha consciente e passa a refletir interesses espúrios. A compra de votos, promessas vazias e favores trocados corrompem o cerne do regime democrático. Pilla lamenta que muitos cidadãos honestos evitem a política por não quererem ou não poderem competir com práticas desonestas. Diante desse cenário, defende que a insatisfação com o sistema atual é não só compreensível como necessária. A “revolta salutar” mencionada no discurso de Mangabeira surge como uma reação legítima à perversão das instituições e representa a esperança de uma regeneração política baseada em princípios éticos e na valorização da consciência cívica. É esse sentimento, segundo Pilla, que deve guiar a verdadeira reforma democrática.