Resumen:
Raul Pilla retoma de forma crítica e reflexiva a famosa frase atribuída ao historiador Capistrano de Abreu: “Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha”, frequentemente citada como “obrigado a ter caráter”. Pilla destaca que essa afirmação, mais do que um mandamento moral, expressa uma carência fundamental da vida pública brasileira: a ausência de valores éticos enraizados. Ele concorda com o economista Eugênio Gudin, que defende a educação como instrumento de formação moral e cívica, mas alerta que esta não se limita à instrução escolar ou a preleções teóricas — exige vivência, exemplo e cultura política efetiva. O autor afirma que o regime presidencialista, predominante no Brasil e na América Latina, contribui para a degradação ética ao centralizar o poder e transformar as eleições em disputas por cargos pessoais, favorecendo demagogos e oportunistas. Em contrapartida, Pilla defende o sistema parlamentarista, que distribui a responsabilidade desde o eleitor até o chefe de governo, criando um ambiente mais propício à educação cívica e à seleção de lideranças conscientes. Assim, aponta para a urgente necessidade de transformar a cultura política nacional por meio de uma educação moral enraizada na vivência familiar, no exemplo das instituições e num sistema de governo que fomente responsabilidade coletiva. Para ele, essa é a única forma de fazer valer a "lei de Capistrano" — uma sociedade na qual todo cidadão se sinta realmente obrigado a ter vergonha, ou seja, caráter.