Resumo:
Analisa a profunda transformação literária que ocorre na obra de Machado de Assis entre o romance "Yayá Garcia" e "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Aponta que, em "Yayá Garcia", Machado ainda segue as convenções do romance clássico, focando em caracteres e paixões típicas dos personagens, sem explorar o mistério profundo da personalidade humana. Em contraste, em "Braz Cubas", o autor liberta seu "demônio interior", dando início a uma nova estética que rompe com as tradições narrativas. Machado deixa de lado a linearidade da narrativa para incorporar digressões filosóficas e reflexões existenciais, criando uma obra fragmentada que, segundo Corção, é marcada por uma nova visão da vida e do mundo. Ele não apenas muda a forma, mas alcança uma dimensão literária mais profunda, comparável aos maiores escritores da língua portuguesa, como Camões e Fernando Pessoa. Também destaca que essa mudança em Machado reflete uma revelação interior sobre a fragilidade da existência humana e o absurdo das convenções sociais. O autor passa a expressar um ceticismo em relação aos valores da época, sem, no entanto, ceder à desesperança total. Essa transformação, que marca "Braz Cubas", segue nos romances subsequentes, como "Quincas Borba" e "Dom Casmurro", onde Machado continua suas reflexões existenciais enquanto mantém sua vida pública convencional.